Papinha industrializada é mais doce e tem menos nutrientes que a feita em casa
18 de setembro de 2013
Elas parecem saudáveis: não têm conservantes nem adição de açúcar e são vendidas em sabores que poderiam ter saído da cozinha mais próxima, como espaguete à bolonhesa e carne com legumes. Mas, segundo um estudo publicado no “British Medical Journal”, as papinhas industrializadas têm menos nutrientes e menor diversidade de sabor e de textura do que as feitas em casa.
Os pesquisadores da Universidade de Glasgow analisaram 479 alimentos industrializados para bebês feitos entre outubro de 2010 e fevereiro de 2011 no Reino Unido. Do total, 364 eram papinhas e mais da metade delas, 65%, eram doces. O trabalho concluiu ainda que a papinha pronta fornece, em média, metade da energia e das proteínas em relação à caseira.
Segundo os autores, bebês têm uma preferência inata por doces. E a exposição repetida pode influenciar as preferências futuras. No Brasil, não há uma análise semelhante recente, segundo a pediatra Roseli Sarni, da diretoria da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Ela conta que as papinhas mudaram de cinco anos para cá, atendendo a pedidos da entidade médica. “Tiraram açúcar, adicionaram leite em algumas delas. Mas não consideramos que seja um alimento completo.”O problema, diz ela, é que as papinhas salgadas quase sempre excluem algum grupo de alimento, quando o bebê deveria comer de tudo.
Para a nutricionista Carolina Cabral da Costa Silva, outro porém são os ingredientes em excesso. As de fruta não têm só fruta.”Elas sempre têm um amido e suco de maçã, para adoçar”, afirma Carolina, uma das criadoras do blog Fechando o Zíper. “Já as salgadas têm mais de um alimento do mesmo grupo [como batata e macarrão]. A criança não aprende a reconhecer sabores.”
Pelo mesmo motivo, a nutricionista Cláudia Lobo, autora de “Comida de Criança”, recomenda que as papinhas caseiras tenham pedacinhos e sejam servidas com os alimentos separados. “Se há maior variedade de sabores, a criança vai crescer gostando de mais alimentos.”
A gerente-executiva de Marketing de Nutrição Infantil da Nestlé, Ionah Kochen, afirma que não há contraindicação quanto à ingestão diária das papinhas. Segundo ela, de 2005 a 2012, a marca fez uma redução de até 56% de sal nos produtos.
FEITA EM CASA
Amanda Jardim Alves, 1, só come papinha industrializada aos fins de semana. Mas se dependesse dela… “Ela gosta de todas. Gosta mais do que da feita em casa”, diz a mãe, a auxiliar administrativa Juliana Jardim, 29.
Quando Amanda era mais nova, Juliana cozinhava os alimentos uma vez por semana e congelava. “Fazia legumes, verduras e carboidratos separados e combinava em três, quatro papinhas.”
Hoje, a menina entrou para o cardápio da família. E é nessa hora que o cuidado deve ser redobrado, diz Roseli Sarni. O maior risco, diz, é em relação ao sal –ela recomenda não adicioná-lo até os 12 meses da criança.
Já de acordo com o pediatra Ary Lopes Cardoso, nutrólogo do Instituto da Criança do HC, um pouco de sal não faz mal. “A criança tem que comer comida gostosa.”
Para ele, o lado bom da papinha industrializada é que os aspectos nutricionais são garantidos. “A caseira depende da mãe seguir recomendações. Pode dar trabalho cozinhar papinha saudável, mas, se ela conseguir, é melhor.”
Fonte: Folha de São Paulo.