Norte e Nordeste sofreram menos com pandemia de gripe A, diz estudo
3 de agosto de 2012
Cientistas brasileiros e do exterior analisaram mortes de 1996 a 2010. Pesquisa desafia a ideia de que vírus ‘influenza’ é mais mortal nos trópicos.
Um novo estudo feito por cientistas brasileiros e do exterior revela que a região equatorial do país foi a menos atingida pela pandemia de gripe A (H1N1) em 2009.
O trabalho foi publicado na revista científica “PLoS One” e desafia a ideia de que esse tipo de vírus influenza era mais mortal nos trópicos.
Segundo a doutora em biologia Cynthia Schuck-Paim, principal autora da pesquisa e diretora da empresa Origem Consultoria Científica, em São Paulo, o trabalho foi feito com base na análise de dados de mortalidade por causas respiratórias e circulatórias em todos os estados do Brasil entre 1996 e 2010.
“Verificamos as mortes até 2008 para estabelecer um padrão básico antes da pandemia e compará-lo com os óbitos observados no período entre junho de 2009 e maio de 2010. Chegamos à conclusão de que, nessa última fase, os casos foram muito mais severos”, explica.
Os cientistas, ligados ao Centro Internacional Fogarty, do Instituto Nacional de Saúde dos EUA, chegaram à conclusão de que durante a pandemia houve um aumento significativo nas mortes por influenza e pneumonia, principalmente na população de 25 a 65 anos, independentemente de fatores sociais ou demográficos.
O impacto também não foi homogêneo em todo o território: as regiões Sul e Sudeste registraram o maior número de óbitos, que diminuíram progressivamente em direção ao equador. Além disso, as mortes no Norte e no Nordeste foram mais tardias. Os estados de Roraima, Acre e Piauí foram os que apresentaram menos vítimas pela gripe suína.
“O clima desempenhou um papel fundamental na dinâmica da pandemia, assim como observamos na circulação das epidemias anuais de influenza durante o inverno”, diz Cynthia.
A pesquisadora acredita que estimativas mundiais superestimaram os casos, pois usaram métodos indiretos de investigação.
“Ainda não é possível distinguir, sem dados de laboratório, quais mortes foram causadas por influenza e quais foram por outros patógenos. Por isso, em vez de estimarmos o número exato de óbitos, nos centramos no aumento da taxa de mortalidade durante a pandemia e a magnitude disso em cada estado”, destaca.
Futuras pandemias
A autora diz, porém, que esses dados não podem indicar que eventuais pandemias no futuro vão seguir esse mesmo padrão.
No caso da gripe espanhola, que matou até 100 milhões de pessoas no mundo todo entre 1918 e 1919 – incluindo o então presidente do Brasil, Rodrigues Alves –, a mortalidade foi altíssima, por exemplo, em um país tropical como o Senegal.
“No caso específico da pandemia por influenza A, houve diferenças consistentes de mortalidade em termos de latitude. Mas não podemos extrapolar essas conclusões para outros vírus respiratórios, pois cada um se comporta de maneira peculiar, levando em conta também a imunidade da população e a eficiência dos recursos para combater esse patógeno”, afirma Cynthia.
Fonte: G1